sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Texto - Viver a Vida

E por falar na novelinha de Manoel Carlos, segue abaixo texto interessante.

Viver a vida infantilmente - por Martha Medeiros
25 de outubro de 2009

Gosto das novelas do Manoel Carlos porque os personagens conversam como se não tivessem decorado o texto, é tudo muito naturalista, e assim está sendo em Viver a Vida, mas algo tem me chamado a atenção: esse naturalismo nunca foi tão infantil. Sei que uma novela é apenas uma caricatura da realidade, mas não posso deixar de reparar que a maioria dos personagens não parece ter mais do que 16 anos.

Irmãos marmanjos correm pela casa para bater um no outro. Um advogado persegue a prima da esposa e, para “pegá-la”, vive se escondendo atrás das portas ou no banco de trás do carro, provocando gritinhos histéricos na moça, que é jornalista especializada em economia. Esse mesmo advogado outro dia foi corrido pela personagem da atriz Maria Luiza Mendonça, que o perseguiu pelo escritório com um taco de golfe nas mãos. Alinne Moraes não caminha: saltita. Lilia Cabral interpreta uma mulher que não tolera cinco minutos de solidão e só pensa em dar o troco no ex-marido que a largou. Giovanna Antonelli e a filhinha parecem ter a mesma idade. Taís Araújo e José Mayer curtiram a lua de mel num carrossel em Paris. Búzios também parece um parque de diversões, onde se anda de conversível com os braços pra cima, como numa montanha-russa. Imagens lindas, mas é novela das oito mesmo? Não é Malhação?Não faz tanto tempo assim, pais e filhos não se vestiam igual, fofocas maliciosas não faziam parte das conversas de gente grande, as relações não eram descartáveis como latinhas de refri, envelhecer não parecia tão trágico, não havia tantos brinquedinhos tecnológicos para maiores de idade, e os papéis eram mais bem definidos: crianças e adolescentes tinham o direito de brincar e se divertir, enquanto os adultos colocavam ordem no galinheiro. Piorou? Não. Acho ótimo que possamos ser joviais e divertidos até os 100 anos, mas é bom ficarmos atentos para não cair na cilada de achar que só os imaturos sabem viver a vida.
Manoel Carlos tem fama de escrever novelas realistas e está fazendo exatamente isso. Tempera todas as cenas com muxoxos, beicinhos, chiliques, deslumbramentos, birras e flertes, escancarando uma fatia da sociedade que parece não saber mais se comprometer, nem trocar ideias sem agredir, nem aceitar o sofrimento. Uma das exceções é a personagem da atriz Lica Oliveira, que faz a charmosa mãe da Helena e que demonstra ter abandonado faz tempo o jardim de infância, esbanjando elegância e bom senso.

É novela, criatura!!

Eu sei, eu sei. E é possível que essa infantilização seja uma estratégia para contrastar com o dramalhão que vem pela frente. Mas não custa refletirmos sobre o que parece bobo, mas não é: o desprestígio da maturidade nos tempos atuais. Sei que, no fundo, somos todos crianças grandes, só que não dá pra perder a compostura e sair atrás de quem nos enerva com um taco de golfe nas mãos. Viva a espontaneidade juvenil, mas nosso lado adulto merece continuar com algum ibope.

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