quarta-feira, 28 de outubro de 2009

textinho filosófico

A Bolsa

Um meu convidado disse recentemente ao despedir-se:
- Gosto de vir aqui. É um lugar onde posso dizer tudo o que quero, sabendo que não passará adiante!

O elogio, na verdade, cabe muito mais a minha mãe do que a mim.

Um dia - eu tinha, então, uns oito anos - estava a brincar ao lado de uma janela aberta, enquanto a Sra. Silva confiava a minha mãe qualquer coisa de sério a respeito de seu filho.

Quando a visitante saiu, percebendo que eu ouvia tudo, chamou-me e disse-me:
- Se a Sra. Silva tivesse deixado a sua bolsa aqui, hoje, iríamos dá-la a outra pessoa?
- Claro que não! - Respondi prontamente.

E minha mãe prosseguiu:
- Pois a Sra. Silva deixou hoje, aqui, uma coisa muito mais preciosa, visto que nos contou uma história cuja divulgação poderá prejudicar a muita gente. Essa história não é nossa, de modo que não podemos transmiti-la a quem quer que seja. Continua a ser dela, ainda que a tenha deixado aqui. Assim, pois, nós não a daremos a ninguém.

Você compreende?
Compreendi muito bem. E tenho compreendido, desde então, que uma confidência, ou até mesmo uma bisbilhotice que um amigo deixa de vez em quando em minha casa, são dele, não minhas, para as dar a quem quer que seja.

Quando, por qualquer motivo, percebo que não estou agindo de acordo, imediatamente vem-me à lembrança a bolsa da Sra. Silva e calo a boca em tempo.

(Wallace Leal V. Rodrigues)
Extraído do Livro: E, para o resto da vida... Contos que tocam o coração / Casa Editora O Clarim

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